FOTO:ACERVO EXPRESSO ITAMARATY / MARCIO A.GALDONI / ALEX FIORI
FONTE:BLOG ÔNIBUS BRASIL
Quando se fala que o País se desenvolveu graças aos ônibus e à coragem e posicionamento visionários dos pioneiros dos transportes, não é exagero de profissionais do setor ou de admiradores deste ramo de atividade que, com o passar do tempo, revela ainda mais sua importância. Exemplos são as discussões sobre mobilidade.
Diversos investidores nos transportes não se intimidavam com a falta de infraestrutura de um Brasil cuja população crescia, mas que não oferecia condições para este crescimento.
Os donos de ônibus, que além de empresários, eram motoristas, cobravam a passagem, lavavam e faziam manutenção dos veículos, entre os anos de 1920 e 1950, praticamente desenharam os caminhos que hoje são rotas principais dentro das cidades e que ligam diversas regiões. Estes caminhos, no entanto, não eram feitos ao seu bel prazer. Eles atendiam as necessidades cada vez maiores de deslocamento da população e até mesmo dos produtos: não raro, os ônibus transportavam mercadorias como encomendas de um comércio a outro.
Os pioneiros dos transportes levavam consigo enxadas, pás e outras ferramentas para avançarem sobre matagais, atoleiros e vias de terra muito irregulares.
Nem os rios eram impedimento para eles.
Exemplo disso é a história da família espanhola Oger e da empresa Expresso Itamaratí, de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.

Hoje a Itamarati faz parte do grupo do empresário Constantino de Oliveira, o Nenê Constantino, e atua nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia e Goiás. São mais de 500 ônibus, 20 filiais e linhas urbanas, suburbanas, intermunicipais e interestaduais.
Mas, para chegar a esses números, a história da empresa começa em 1951. A exemplo de outros empreendimentos dos transportes, o fundador foi um imigrante: o espanhol José Oger.
A presença de imigrantes no setor era forte por vários motivos. As famílias vinham principalmente da Europa com uma cultura diferente de investimentos e traziam do Velho Mundo o conhecimento adquirido pelo desenvolvimento, como também das crises, do Continente. Além disso, boa parte destas famílias inicialmente trabalharia no setor agrícola. Mas como elas assistiram de perto em seus países o que era preciso para uma nação começar a se desenvolver, conseguiam enxergar lacunas no Brasil que precisavam ser preenchidas.
Estes investidores faziam isso por caridade ou apenas pelo espírito em prol da nação onde estavam? Não, mas seus empreendimentos traziam a eles prosperidade e à sociedade atendida por seus serviços oportunidades e melhores condições de vida.
No ano de 1951, José Oger e os filhos Affonso Ogger e Clowis Oger entraram no ramo de transportes de passageiros. O noroeste de São Paulo crescia e as pessoas precisam ir e vir. As cidades necessitavam de uma relação mais intensa entre elas.
José Oger e os filhos compraram então três jardineiras (ônibus rústicos com carroceria de madeira sobre chassi de caminhão) modelo F 5 – Ford. A primeira linha era entre São José do Rio Preto e Novo Horizonte e o nome inicial da empresa era Oger & Filhos.

Os serviços começaram a atrair passageiros e pedidos para mais linhas.
Nos anos de 1960, o nome da companhia passa para Expresso Itamaratí.
Logo, a companhia registrou um expressivo crescimento e adquiriu outras pequenas empresas que atuavam na região. Isso mostrava outra face da história dos transportes: o setor começava a se concentrar.
Em 1968, a Itamarati comprou a Viação Tamoios. No ano de 1971, foi a vez de outra empresa ser adquirida pela Itamaratí: a VAP – Viação Aprazível Paulista.

PASSAR SOBRE AS ÁGUAS
Ao mesmo tempo que os setores industriais e agrícolas registravam expansão no noroeste paulista, com a industrialização, as atividades agropecuárias de Mato Grosso do Sul também cresciam. A agroindústria era uma realidade.
Os negócios em São Paulo eram importantes para Mato Grosso do Sul e vice-e-versa. As pessoas das duas regiões viam oportunidades nas vizinhas.
Mas o Rio Paraná, que divide os dois estados nesta região, era um obstáculo para esta comunicação que foi superado por uma empresa de ônibus.
Os recursos públicos, como hoje, não eram investidos da maneira e na velocidade necessárias.

Foi então, que a Expresso Itamaratí, pela própria família Oger, em 1973 criou com seus recursos um serviço de balsas que permitia a travessia pelo Rio Paraná.
O objetivo inicial da família era que as balsas permitissem a circulação dos seus ônibus entre os dois estados. Mas o empreendimento ganhou proporções e serventias maiores.
Carros e os caminhões com os bens agropecuários daqueles extremos de São Paulo e do Mato Grosso do Sul procuravam as balsas e a Itamarati criou uma unidade de negócio de transporte hidroviário que operou por 25 anos. O local de travessia foi chamado de Porto Itamarati.
E como os Oger e a Itamarati, diversos empreendedores dos transportes e vale destacar – seus funcionários – não se apequenaram diante da infraestrutura que o Brasil não tinha, mas que precisava.
É certo dizer que muitos investimentos públicos só chegavam a determinadas regiões depois dos serviços de transportes. Mas é correto também afirmar que muitos dos pioneiros do setor tiravam dinheiro do próprio bolso para fazer investimentos que deveriam ser do Estado.


Fizeram somente com altruísmo? Não, eles sabiam que iam ter retorno. Mas isso é que é ser visionário. Saber como e onde investir, e além disso, beneficiar o bem coletivo com seu investimento.
Assim, é possível afirmar que hoje se discute o fato de o Estado precisar financiar os transportes para o barateamento do valor das passagens e aumento da qualidade dos serviços, tanto rodoviários como urbanos e metropolitanos, mas não é erro nenhum dizer que, ainda hoje, o setor de transportes, ainda financia o Estado, pelos passageiros, funcionários e empreendedores.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.
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