segunda-feira, 28 de outubro de 2013

TARIFA URBANA:Quase metade é imposto

As grandes manifestações populares que aconteceram no país e que tiveram como ponto de partida os aumentos no transporte público de São Paulo não se resumiram apenas ao tema, mas serviram para ascendera luz amarela tanto nos governos como nos empresários do segmento, já cansados da moda "fogo-em-ônibus-em-protesto". 


FONTE:NEGÓCIOS EM TRANSPORTES / PORTAL ÔNIBUS PARAIBANOS
FOTOS:HENRIQUE BARRETO / FÁBIO DE SOUZA CHAVES / LUCAS LIMA

Com a coincidência da realização da Transpublico, reuniram-se várias lideranças do setor no intuito de encontrar soluções no sentido de desoneração do transporte rodoviário urbano no país. Já que a carestia das tarifas é inegável, incluindo ônibus, metro e trens metropolitanos, a convergência de opiniões é de que voracidade de arrecadação de estados, municípios e governo federal eleva em muito a taxa padrão.

Não poderia ser de outra forma diante de um total de 38% de impostos no valor dos custos operacionais e do lucro de cada empresa. Uma luz foi dada pela aprovação pelo Senado da isenção das alíquotas das contribuições do PIS-Pasep e Cofins, que agora depende da sanção presidencial.

Mas a tão falada desoneração está sujeita a de várias instâncias, dependendo da procedência das taxas, que incidem em absolutamente todas as fases do sistema em efeito cascata, dos encargos trabalhistas de motoristas e cobradores aos incidentes sobre pneus, lubrificantes, combustíveis etc etc. Tem ICMS, ISS, INSS, Cofins, uma infinidade deles, que provocam o famoso efeito cascata.

O presidente da NTU - Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Otavio Cunha, enumerou durante a feira os graves problemas do transporte urbano, especialmente aqueles ligados à falta de infraestrutura. "Nos anos 50 e 60, a cidade de São Paulo chegou a contar com 600 quilômetros de trilhos (de bondes), enquanto hoje tem 74 km de linhas de metro apenas", diz ele.


Na mesma toada, Cunha observa que naquela época a cidade tinha 2,2 milhões de habitantes, cinco vezes menos que os 11 milhões de hoje. Esse quadro estabelece as condições de como o tempo médio de cada viagem elevou-se de 10 minutos para 64 minutos. O essencial para ele é vencer tabus como o da prioridade ao transporte individual e o da falta de continuidade administrativa nas cidades, sempre à mercê de partidos e vontades políticas. "A maioria dos políticos se esquece que o transporte público é essencial à qualidade de vida urbana", define.

Outro tabu no segmento é o subsidio ao transporte de massa: "Ninguém fala, mas a cidade de Nova Iorque subsidia suas tarifas em 70%, como estimulo ao uso da rede pública e à diminuição do índice de emissões de automóveis", observa Cunha, para quem boa parte das grandes cidades do mundo também pratica o subsídio. Na União Européia, por exemplo, os subsídios variam entre 45% até 70%.

A falta de prioridade do transporte urbano, com o abandono dos investimentos em infraestrutura, também causou outro debito ao sistema, consequência da obras viárias não realizadas, que formaram os congestionamentos; que levaram à diminuição da velocidade média dos ônibus, que passaram a ter menor frequencia, que, portanto, apresentam baixa oferta e que provocaram a queda da qualidade do serviço.

"O sistema de transporte de massa tem sua capacidade física", lembra Cunha, deixando claro que a saturação é inexorável. "Chega uma hora que não adianta mais elevar o número de ônibus, pois a velocidade diminui cada vez mais", analisa. O mesmo ocorre no Metro, que embora conte com apenas 74 quilômetros de linhas tem como limitador o tempo de segurança entre uma composição e outra. Aliás, o metro de São Paulo é o mais pesado do mundo com seus 4,6 milhões de passageiros/dia apesar de suas restrições de comprimento e linhas.

Soluções

A solução então é a metronização das linhas de ônibus, com a formação de sistema BRT ou BRS, além de investimentos maciços nos transportes sobre trilhos, como metrôs, VLT´s etc. "Uma das formas de acelerar esse processo seria adotar o sistema de PPP´s, as parcerias publico privadas, porque os governos não podem se endividar além dos limites da legislação", sugere Cunha.


O presidente da Fabus - Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, José Antonio Martins, por sua vez, salienta que em dez anos a frota brasileira de veículos cresceu de 35,5 milhões para 73,7 milhões, apresentando 107% de aumento, enquanto os investimentos em infraestrutura foram exíguos. O estrangulamento do viário das cidades, por isso, fez despencar o número de viagens realizadas por ônibus por dia em São Paulo à metade - de 10 para 5 viagens/dia, enquanto o número de passageiros/ônibus caiu de 1.200 para 500.

"O custo das nossas empresas é gigantesco não só por culpa dos impostos, mas também pela falta de infraestrutura - diz ele -, que compromete a competitividade dos nossos produtos, da tarifa de ônibus às exportações". Para o dirigente é chegada a hora de uma desoneração fiscal em todos os níveis.

Para Martins, o mesmo contrasenso que faz o custo logístico brasileiro variar entre 7 e 9% é responsável pela incidência de cerca de 60 impostos e gratuidades que alcançam 35% dos passageiros transportados por ônibus. "Somem-se todas as dificuldades e veremos o porquê do custo das tarifas".

Apesar de tudo, o mercado brasileiro de ônibus deverá chegar a 35 mil unidades este ano. O sistema como um todo está recebendo 2 mil trens de passageiros, em 250 quilômetros de greide e 1.272 estações, além de 1.500 km de corredores e 9 mil ônibus em dois anos. Tudo isso deve ser muito mais fácil a partir de agora, embora a isenção seja federal, espera-se que ela se amplie em todos os âmbitos.

MATÉRIA / TEXTO: Pedro Bartholomeu

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