Milhares de pessoas se aventuram em uma viagem sem roteiro definido. A bordo de ônibus precários e ilegais, com motoristas cansados por conta do excesso de horas à frente do volante, mulheres, crianças e idosos embarcam para destinos que vão desde cidades da Baixada Santista, a 70 quilômetros de São Paulo, a viagens para o Nordeste, que podem chegar a 2 mil quilômetros, percorridos em três dias.
FOTO:LEANDRO MATOS / BRUNO RENATO / ALEXANDRE MACHADO / ANDREW CAMPOS
FONTE:MOBILIDADE SP
O transporte clandestino de pessoas acontece livremente no entorno dos
terminais rodoviários e em importantes pontos da capital paulista.
Acompanhamos o embarque de quem se aventura a entrar, em sua maioria, em veículos velhos, sujos, sem equipamentos de segurança, em três endereços: São Miguel Paulista e Brás, na Zona Leste, e no entorno da Estação do Metrô Jabaquara, na Zona Sul. O pagamento é feito na hora e não existe limite para a bagagem, desde que o passageiro pague a mais.
Sem a certeza de como será a viagem, a diarista Marli, que viajava com os filhos de 5 e 9 anos de idade para Espinosa, em Minas Gerais, se apegou à fé. “Se tiver de acontecer alguma coisa, acontece em qualquer lugar. Deus protege a gente”, afirmou ela.
No dia seguinte, um ônibus regularizado, novo, da Viação Penha, que saiu de Curitiba (PR) para o Rio de Janeiro, caiu em uma ribanceira em Itapecerica da Serra (SP). A polícia acredita que o motorista dormiu. Quinze pessoas morreram.
O aposentado Geon, de 59 anos, iria enfrentar uma viagem de 32 horas para Jacobina, na Bahia, a bordo do clandestino pela primeira vez. Segundo ele, a escolha pelo ônibus pirata foi para economizar. “Se fosse na rodoviária eu pagaria R$ 445, aqui sai ‘só’ por R$ 220”. No site da Rodoviária do Tietê a passagem “oficial” para Jacobina custa R$ 324,23.
Mas se engana quem pensa que somente o preço é o grande atrativo dos clandestinos. Os passageiros das vans ilegais que vão para o litoral pagam R$ 2,05 mais caro do que os ônibus autorizados. Para descer para a Praia Grande, por exemplo, a passagem custa R$ 30. A praticidade é que a van deixa a pessoa no endereço escolhido.
Os clandestinos têm um esquema para evitar a fiscalização policial nas estradas. “Na frente do ônibus vai um carro, que passa para o motorista os lugares com fiscalização. Se tem bloqueio, o carro (ônibus) vai dar uma voltas. Por isso não temos roteiro definido”, disse Gonçalo, responsável por uma agência ilegal, à reportagem.
MAIS
Aumenta clandestinos na época de festas
A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) confirmou que, devido às férias, a demanda de veículos clandestinos nas estradas aumenta. Mas em contrapartida a fiscalização é intensificada.
94 veículos foram autuados em dezembro
Equipe fica posicionada em locais para coibir fuga
Sobre as empresas usarem olheiros para fugir de blitz policial, a ANTT explicou que o desvio dos veículos é previamente analisado através de levantamento de inteligência. Para coibir a prática, equipes ficam posicionadas em pontos de interceptação para a abordagem destes ônibus que desviam da fiscalização. De acordo com a agência, a estratégia vem demonstrando resultados.
ENTREVISTA
Basilio Militani Neto_ fiscalização da ANTT
‘De São Paulo dá para chegar a qualquer destino do país’
Para coibir o transporte de pessoas em veículos clandestinos, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) intensificou a fiscalização nas estradas neste período de festas. O coordenador de fiscalização da ANTT falou sobre os principais riscos para quem utiliza este tipo de transporte e as condições insalubres de trabalho dos motoristas da rede.
A fiscalização nas estradas é intensificada neste período do ano?
Quais os riscos para as pessoas que viajam a bordo de um veículo clandestino?
Qual o principal destino dos clandestinos de São Paulo?
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