FOTO:ACERVO
FONTE:SÃO PAULO ANTIGA
Fica difícil hoje de imaginar uma cidade como São Paulo na década de 50, já com dimensões de uma grande metrópole mundial, sem uma terminal rodoviário, mas esta era a realidade paulistana. As discussões sobre como e onde construir um grande terminal de ônibus para a cidade se estenderam por muitos anos e nunca chegavam a um consenso definitivo sobre o lugar.
Durante estas discussões foi aventada a ideia de construir a rodoviária no local do Parque da Luz. A absurda ideia afirmava que o local ideal era ali, pois estava bem ao lado da Estação da Luz. Felizmente, o absurdo não foi levado adiante e a estação acabou sendo idealizada e construída não muito distante dali, diante da outra estação ferroviária, a Júlio Prestes.
E com o tempo, seria verificado que o editorial do jornal O Estado de São Paulo estava coberto de razão. O local escolhido para a rodoviária paulistana era um dos piores possíveis
De uma hora para outra o que se viu foi um trânsito absurdo se deslocar
para uma área da região central que até então não tinha visto tamanha
concentração de tráfego. Centenas de ônibus e taxis, além de milhares de
pessoas passaram a frequentar a área. No mesmo ano da inauguração,
moradores do bairro passaram a reclamar do grande aumento de furtos nas
redondezas, já que rodoviárias são foco de pessoas que não conhecem a
cidade (especialmente migrantes) e estes, por sua vez, mais suscetíveis a golpes e roubos.
Esta chegada repentina de pessoas de outras regiões afugentou os
moradores mais antigos, que procuraram mudar para bairros como
Higienópolis e Barra Funda. Por outro lado, inúmeras residências agora
desocupadas foram transformadas em pequenos e médios hotéis, muitos
deles de baixa qualidade, o que diminuiu consideravelmente o padrão de
vida do entorno da nova rodoviária, iniciando um processo de
deterioração da região que até hoje não foi revertido.
Mas nem tudo era ruim na nova rodoviária. Concebida com desenho moderno e uma arquitetura bem diferente do que os olhos dos paulistanos estavam acostumados a ver, o Terminal Rodoviário da Luz tinha em seu hall um belo chafariz, e todo seu interior era decorado com pastilhas coloridas. Além disso também haviam grandes painéis acrílicos, também coloridos, que davam um visual bastante inusitado tanto do lado externo como no interior. Na década de 70 o terminal recebeu televisões a cores o que atraía para a estação não só passageiros como curiosos em ver aquela grande novidade.
A Estação da Luz Atualmente |
O Terminal Rodoviário da Luz teria uma vida relativamente curta na sua função: duas décadas. Saturado, seu fim começou a ser delineado em 1977, quando parte das suas linhas foram transferidas para o Terminal Jabaquara. E o fim definitivo viria em 1982, com a inauguração do Terminal Rodoviário do Tietê, na gestão do então governador Paulo Maluf.
O fim repentino do terminal rodoviário foi um golpe muito grande nos já transtornados bairros da Luz e Campos Elíseos. Sem a rodoviária, vários hotéis de pequeno e médio porte fecharam as portas, outros transformaram-se em prostíbulos. Além disso muitas lojas, bares e lanchonetes também fecharam as portas. Em 1988, seis anos após o terminal ser desativado, a área foi vendida a um grupo de empresários que transformaram o local no Fashion Center Luz.
Foi durante o período do Fashion Center Luz que as famosas pastilhas foram removidas. O local seguiria funcionando até 2007, quando foi desapropriado pelo Governo do Estado de São Paulo para a construção de um centro cultural (ainda no papel) com teatro e escola de dança. A demolição só começou em 2010, com muita polêmica e desrespeito ao direito individual, como a triste história do Edifício Opus e, principalmente, da Drogaria Duque de Caxias que o São Paulo Antiga acompanhou de perto.
Hoje o local é um grande terreno vazio sem qualquer indício de início de obras. O que era uma grande ponto de chegadas e partidas se tornou um grande ponto de encontros de usuários de drogas e desencontros de vidas sem rumo.
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